Algoritmos no comando das nossas vidas
Artigo de opinião publicado hoje, 10/02/2019, pelo Correio Braziliense, analisa a evolução dos algoritmos, as possibilidades e os riscos associados ao surgimento e disseminação da Inteligência Artificial (IA), além do eventual alcance da singularidade – com máquinas se tornando mais “inteligentes” que nós.
Boa leitura!
Maurício Antônio Lopes
Pesquisador da Embrapa
Os algoritmos fazem, cada vez mais, parte das nossas vidas, razão porque precisamos entender o que são e as possibilidades que nos oferecem. É fácil entender a função dos algoritmos quando os comparamos, por exemplo, a uma simples receita. Para fazer um bolo é necessário seguir um conjunto definido de instruções, como pré-aquecer o forno; misturar farinha, açúcar e ovos; adicionar o fermento; despejar em uma assadeira; e levar a assar por tempo determinado. Algoritmos, como receitas, são instruções detalhadas para resolver um problema ou concluir uma tarefa. E se tornaram amplamente conhecidos como elementos essenciais no funcionamento dos computadores, que são parte do nosso dia-a-dia.
Como os computadores não entendem a nossa linguagem, os programadores criaram linguagens que servem de ponte entre nós humanos e a máquina. Assim, escrevem algoritmos para dar comandos à máquina, desde os mais corriqueiros, como fazer um cálculo matemático, até os mais complexos, como interpretar imagens ou controlar satélites na órbita da terra ou de outros planetas. Esse é um campo do conhecimento que vem alcançando avanços vertiginosos nos últimos anos, a ponto de muitos afirmarem que o futuro pertence aos algoritmos, que estarão no comando de indústrias, do comércio, de veículos autônomos e até de robôs que mimetizarão seres humanos nas mais variadas atividades.
Já fazem parte do nosso dia-a-dia os algoritmos desenhados para gerar imensos volumes de dados a partir do nosso uso sistemático de computadores e smartphones ou de objetos de uso cotidiano – como utensílios domésticos e vestimentas. Ao usar mecanismos de buscas na internet, navegar pelas midias sociais ou realizar compras online, estamos alimentando bases de dados sobre o nosso comportamento e preferências. E algoritmos cada vez mais sofisticados são usados para gerar nossa história de vida e encontrar padrões em nossos dados que indiquem o que gostamos de consumir, os esportes que praticamos, com quem nos relacionamos, e até mesmo decisões que tomaremos no futuro. As implicações de tais avanços são obviamente enormes, embora muito difíceis de mensurar de forma precisa.
Mas à medida que a sofisticação dos algoritmos permitir produzir e utilizar Inteligência Artificial (IA) na prática, as discussões em torno dessas implicações irão, inevitavelmente, se aprofundar. Esta realidade virá com a crescente produção e disseminação de dispositivos capazes de simular habilidades humanas, como a capacidade de ver, ouvir, tomar decisões e resolver problemas. A expectativa é que em breve tenhamos dispositivos que mimetizem capacidades humanas como raciocínio e inteligência. Tais avanços poderão ter um efeito transformador, representando grandes oportunidades em diversos campos da atividade humana, como medicina, comércio, finanças, educação, agricultura, transporte, etc.
Mas tais avanços poderão também representar perigos, para os quais não estamos preparados. Imagine quando se disseminarem dispositivos operados por algoritmos capazes de imitar o nosso cérebro e “aprender” funções complexas através da repetição de tarefas com melhoras e aperfeiçamento sucessivos. Dispositivos que possam ser treinados a “pensar” de forma semelhante a nós humanos, buscando aprimoramento contínuo com base na experiência. O que assusta é a possibilidade de tais máquinas se tornarem mais capazes que nós, fenômeno conhecido como “singularidade” – a possível emergência de dispositivos aptos ao auto-aperfeiçoamento, gerando uma super-inteligência que altere radicalmente a civilização e a natureza humana.
O que parece ficção científica precisa ser levado a sério por uma razão muito simples: enquanto nós humanos acessamos e aprimoramos conhecimento através de anos de dedicação e estudo ou de inúmeras interações com outros humanos, os computadores interligados em grandes redes globais e munidos de algoritmos capazes de auto-aperfeiçoamento poderão acessar e processar imensas quantidades de dados e informações em grande velocidade, livres de quaisquer barreiras temporais, culturais ou linguísticas. Ganhariam, assim, a capacidade de resolver problemas extremamente complexos e aprender novas habilidades de forma significativamente mais rápida que nós humanos, com consequências imprevisíveis.
A emergência da Inteligência Artificial prenuncia o limiar de uma nova era, com profundas implicações para a sociedade. É por isso que os governos mais atentos, apoiados nas suas comunidades científicas, estão definindo agendas que orientem o desenvolvimento da Inteligência Artificial, e também definindo medidas para identificar e gerir riscos, sem retardar o progresso científico e tecnológico. A tarefa é complexa e precisaremos usar a nossa criatividade e imaginação para nos colocarmos sempre à frente dos algoritmos. E mais, precisaremos ser capazes de ensinar às gerações futuras a habilidade da reinvenção, que as permitam superar os perigos criados pela própria engenhosidade humana.
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