Escolha das Espécies Florestais e Planejamento

A escolha das espécies mais adequadas para os diversos tipos de SAF ́ s exige esforço e cautela do investidor. Quando se escolhe o eucalipto como componente arbóreo, por exemplo, existem clones com características mais indicadas para determinados usos, e isto não pode ser ignorado.

A produtividade madeireira, que tanto atrai a atenção de produtores rurais, empresários e investidores, pelo cultivo de clones de eucalipto ao invés de espécies puras, não é um resultado somente relativo à definição do(s) clone(s) a serem) cultivadas), mas também de boas práticas silviculturais; da execução das mesmas no momento adequado, principalmente em áreas de extremos

climáticos, como a ocorrência de períodos secos.

Além disso, precisa ser adotado um bom plano de manejo, para que se possa obter boa produtividade da madeira.

 POR ONDE COMEÇAR

Pensar na comercialização antes do plantio é pensar no sucesso. Via de regra, muitos produtores desejam um clone “que serve para tudo”. Isto não existe. Madeira para construção civil possui características diferentes daquelas para produção de energia, e estas, por sua vez, diferem daquelas destinadas à produção de fibra (celulose). Muitas indústrias já compram cavacos (madeira picada) não pelo volume, mas pelo poder calorífico ou então pelo peso.

Existem, ainda, clones que desfolham naturalmente e outros que não fazem. Nestes últimos, haverá um gasto complementar para retirada desses galhos, em pelo menos até 5,0 metros de altura nos SAF´s tipo silvipastoril.

No caso de madeira para serraria, a existência de “nós soltos” é um problema para laminados e tábuas serradas, enquanto os “nós presos” trazem qualidade para os painéis, aumentando o valor agregado da madeira vendida.

 A ESCOLHA

Certa vez, um produtor ouviu dizer que os cabos de violino e outros instrumentos de corda possuíam melhor qualidade quando eram feitos da madeira de pau-brasil. Este, então, decidiu pelo uso desta espécie num sistema silvipastoril de 104 hectares em uma região do Cerrado.

Este produtor não refletiu que um pouco mais de 1,0 ha talvez fosse o suficiente para atender boa parte da demanda mundial para a produção desse tipo de instrumento. Além do mais, o pau-brasil é uma espécie clímax, o que indica que deve ser sombreada na fase juvenil e sua ocorrência natural é no bioma da Mata Atlântica.

A escolha do pau-brasil tinha tudo para ser descartada para este projeto. Todavia, o produtor não se atentou antecipadamente para os aspectos ecológicos da planta e os aspectos comerciais e econômicos para a finalidade que se desejava para a madeira. Para que um SAF dê certo, é fundamental um bom planejamento do projeto e estudo de mercado.

Outro aspecto que se tem observado é que não são poucos os produtores que reclamam do valor do preço do componente arbóreo no momento da venda. É fácil diagnosticar que pode ter havido um erro na escolha da espécie, esquecendo-se de pensar na comercialização. Existem exemplos de grandes sucessos financeiros usando-se bordo, teca, mogno, seringueira, guanandi, pinus e pupunha como componentes arbóreos dos SAF ́ s.

 MANEJO DAS ESPÉCIES

De maneira geral, tem-se observado que os produtores tendem a se especializar numa determinada exploração agropecuária. Produtores de leite desconhecem sobre produção de gado de corte, e ambos sobre cultivos agrícolas. Todavia, a concepção de SAF ́ s exige conhecimentos diversos, principalmente sobre várias culturas distintas.

O investidor/produtor deve estar consciente sobre as nuances que envolvem um cultivo misto para obter dele todos os benefícios pré-definidos, além das necessidades de ade- quações em tempo e espaço.

Um fator primordial é a definição do espaçamento entre os componentes arbóreos dos demais fatores de produção. Deve-se levar em conta o impacto do sombreamento sobre as espécies utilizadas em médio e longo prazo, e ainda a competição por água e nutrientes entre elas.

O espaçamento é ainda importante pensando nos processos de mecanização do empreendimento agropecuário. Houve a implantação de um SAF de seringueira com soja e milho numa área muito plana. A distância entre as fileiras de árvores foi de 7,0 metros.

Mas, o produtor tinha plantadeira e colheitadeira de 4,5 metros de largura. Logo, houve grande perda de receita dos cereais nos primeiros anos de cultivo, com dificuldade de reaproveitamento de fertilizantes por ambos os componentes, uma vez que não foi possível otimizar a mecanização.

Neste caso, as filas das árvores deveriam ser distanciadas em torno de 10 metros, mantendo-se a população por hectare.

 CUSTOS E PLANEJAMENTO DE ATIVIDADES

Um dos grandes estímulos que o produtor se depara no sistema agrossilvipastoril é a possibilidade de gerar receita a curto, médio e longo prazos. A diversificação das culturas agrícolas deixa o produtor mais bem preparado em um cenário de desvalorização comercial de algum cultivo/produto, uma vez que há outras fontes de renda na mesma propriedade.

Ressalta-se, ainda, que é durante o diagnóstico que devem ser tratados minuciosamente os detalhes do investimento necessário, financiamentos e planejadas as diversas atividades operacionais e comerciais. O detalhamento de custos e sua distribuição no tempo e no espaço são primordiais para um bom projeto. Não raramente, os chamados “ajustes técnicos” trazem surpresas quanto aos custos, nem sempre positivos.

 OBEDIÊNCIA À LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

Obediência à legislação ambiental nunca foi problema para implantação dos SAF ́ s, mesmo porque esta modalidade de cultivo está liberada para uso até em APP ́ s – com a ressalva de que precisa ter a responsabilidade técnica documentada de um profissional da área. A pergunta mais frequente é quanto ao uso de espécies florestais imunes de corte. Este procedimento não é problema, já que se trata de um sistema de cultivo de produção. Sistemas de cultivos são facilmente identificáveis pela disposição dos indivíduos e por outras evidências, como uniformidade e pela distribuição diamétrica característica de povoamentos equiâneos.

 VALE A PENA INVESTIR EM UM SAF?

Todo empreendimento agropecuário exige dedicação, planejamento e estudo de mercado, deixando o produtor preparado para as situações adversas que podem aparecer em qualquer tipo de investimento.

As oportunidades de ganho ecológico, social e financeiro em sistemas agroflorestais comprovam a eficiência e sustentabilidade do negócio. Além desses fatores, existem ainda políticas de compensações socioambientais e políticas de financiamento para projetos agroflorestais que estimulam os produtores a investirem nesse tipo de negócio.

Em um cenário de instabilidade econômica, o SAF é uma alternativa, uma vez que diversifica a produção de alimentos e estimula o uso múltiplo e otimizado dos recursos que o produtor tem à disposição em sua propriedade. 

José Geraldo Magestejgmageste@ufu.br

Doutor e professor – Instituto de Ciências Agrárias – Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

Vitor Augusto Cordeiro Milagres santamariaagroflorestal@gmail.com

Santa Maria Inovações Agroflorestais

Luís Augusto S. Dominguesluisaugusto@iftm.edu.br

Professor – Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM)