Os Cursos, o Mercado e os Profissionais
O setor agropecuário brasileiro é um dos mais competentes do mundo. Somos um dos maiores produtores e exportadores de carne de frango e bovina, de açúcar, soja, milho, café, algodão, suco de laranja entre outros. Nossas condições climáticas favoráveis e a grande extensão territorial contribuem para o sucesso da quantidade de alimentos e outros bens produzidos. A produtividade está sendo alcançada pelo empenho e competência dos profissionais da modalidade Agronomia porque devido as condições tropicais nossos solos são os mais pobres em fertilidade e ácidos do mundo, a nossa fitossanidade de plantas e de animais são complexas, únicas e muito específicas. É necessário um profissional criativo e inovador que esteja em sintonia com a geração de tecnologias específicas e apropriadas, com visão holística de sustentabilidade para um ambiente muito frágil. O profissional terá que atuar em qualquer etapa do ciclo produtivo com visão conservacionista, agregando qualidade e inovações a todo o ciclo de produção. Aí é que entra o grande sucesso dos profissionais da modalidade Agronomia.
Esse profissional para ter êxito dever atuar, se possível, em todas as etapas do processo de evolução do agro, desde o planejamento até o processamento e a comercialização. Para garantir ganhos contínuos e crescentes deve também ser responsável pelo ensino, pesquisa, transferência de tecnologia e gerenciamento de atividades nas áreas de biotecnologia, na agroindústria, na engenharia de biossistemas, na economia agrícola e de outras tecnologias da informação embarcadas ou não. O profissional terá que ser estudioso, curioso e criativo para realizar atividades que visam o progresso tecnológico capaz de melhorar a produção animal e vegetal, mantendo harmonia com o ecossistema.
“Os profissionais da modalidade Agronomia devem possuir habilidades que lhe possibilitam diagnosticar e analisar os processos agrários, ambientais e sociais de modo a poder atuar no planejamento e gerenciamento, tanto ao nível de unidade de produção como fora dela, em consonância com as condições técnicas ambientais, socioeconômicas e culturais da sociedade em geral”, avalia o coordenador do curso de agronomia da Universidade Federal do Rio Grande o Sul (UFGRS), Sergio Francisco Schwarz.
A formação do profissional de Ciências Agrárias
Os cursos da modalidade têm a duração média de 10 semestres, ou seja, cinco anos. A grande maioria das universidades ministra o curso em horário integral. Não existe o curso de Engenharia Agronômica em nível tecnológico, mas apenas como bacharelado. Na modalidade, o aluno recebe uma base sólida em disciplinas básicas como matemática, química e física, que o preparam para a realização das disciplinas profissionalizantes do curso (veja lista mais abaixo).
Os primeiros anos são mais focados nas áreas de ciências biológicas e exatas; nos seguintes, as disciplinas profissionalizantes tomam conta da grade. Boa parte da carga horária é dedicada às práticas em laboratórios e no campo, em contato com o setor produtivo. O aspirante ao curso da modalidade deverá ter como maior característica a capacidade de desenvolver sua formação acadêmica com responsabilidade, visão social, holística e respeito ao meio ambiente, tendo em mente que o profissional da modalidade possua formação ampla e eclética, capaz de gerar e difundir conhecimentos científicos e técnicas agronômicas adequadas à concepção e manejo de agroecossistemas sustentáveis que deverão permanecer para as futuras gerações. Deve, portanto, ser um profissional com elevado senso de cidadania, consciência social e ambiental para avaliar as atividades do campo e orientar a comunidade onde atua com metas para garantir a produção de alimentos e outros bens essenciais a todos seres vivos com qualidade e sustentabilidade. Não há necessidade de experiência ou vivência prévia para ingressar em um dos cursos da modalidade, afirma o prof. Sergio Francisco Schwarz, da UFRGS. Segundo ele, nos últimos anos tem aumentado o número de alunos de perfil urbano que deseja entrar nessa profissão que trabalha com am produção de alimentos.
Além dos cursos da modalidade, algumas instituições de ensino, com base na autonomia universitária presente na da LDB (Leis e bases da educação brasileira) oferecem outros cursos que profissionalmente atendem parcialmente as atribuições inerentes os três cursos tradicionais da modalidade. O estágio curricular supervisionado é obrigatório para os alunos, sendo geralmente indicado entre o 8º e o 9º semestres. Para o exercício profissional, o engenheiro agronômico deverá estar registrado no Conselho Regional de Engenharia e Engenharia Agronômica (Crea) da região de sua atuação. O avanço tecnológico tem grande influência na carreira do engenheiro agrônomo. A agricultura de precisão, a engenharia e os aspectos biológicos estão constantemente avançando em tecnologia. “Uma semente carrega mais biotecnologia do que um aparelho celular possui de tecnologia”, compara o coordenador do curso de engenharia agronômica da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), Roberto Arruda de Souza Lima. O coordenador da Esalq acredita que é essencial que o profissional da Modalidade Agronomia minimize sempre custos e maximize as receitas, atingindo assim o auge da produtividade.
“Caso contrário, será superado pela acirrada concorrência e ficará fora do mercado”, diz Lima. Para se manter competitivo, o engenheiro agrônomo deve acompanhar de perto o desenvolvimento tecnológico, com formação educacional contínua, inclusive quando estiver fora da universidade. As entidades de classe da modalidade assim como o sistema Confea-Crea comungam desta filosofia e pensamento e, por isso, investem parte de suas receitas com os chamamentos públicos para as entidades e sindicatos de classe de modo a viabilizar constantes atualizações e integração profissional.
Durante o curso, a área de pesquisa científica é muito estimulada tanto em universidades públicas, quanto particulares e em empresas, institutos e cooperativas de pesquisas, que pode até garantir bolsas de estudos, em alguns casos. De acordo com o coordenador, os alunos da modalidade Engenharia Agronômica devem manter contato próximo com a área de pesquisa e da extensão de modo a facilitar a transferência de conhecimentos e tecnologias, importantes no ambiente tropical para o desenvolvimento do Agro. Isso ocorre especialmente nas atividades fora da sala de aula. “A iniciação científica, fomentada inclusive com bolsas e projetos junto a instituições como CNPq e Fapesp, é muito incentivada. Adicionalmente, há mais de 70 grupos de extensão que, na maior parte, atuam também na área de pesquisa, especialmente a aplicada”, conta Roberto Arruda de Souza Lima. Ele diz ainda que o aluno tem que desenvolver, obrigatoriamente, estágios ao longo do curso que auxiliam na maior proximidade com a produção ou com as pesquisas em sua área de interesse. Desde o início do curso, a metodologia científica tem que fazer parte das disciplinas obrigatórias de forma a capacitar os estudantes a planejar e realizarem seus trabalhos, sejam eles pesquisas ou de desenvolvimento rural.
Principais eixos componentes do curso: Produção vegetal; Produção e nutrição animal; Habitação e engenharia rural; Máquinas e mecanização; Macro e microbiologia; Engenharia de biossistemas; Geologia, rochas e minerais; Geração e uso da energia com ênfase nas energias alternativas; Fitossanidade e integridade das plantas; Solos e nutrição de plantas; Biotecnologia; Recursos naturais e manejo ambiental; Armazenamento, transporte e agroindústria; Alimentos e nutrição animal; Economia e administração; Avaliação, perícia e arbitragem; Empreendedorismo na profissão
Possibilidades de carreira
Os cursos da modalidade Agronomia, formam profissionais capacitados a promover e orientar o uso correto dos fatores de produção, do uso sustentável dos recursos naturais e redução de desperdícios. Também está entre suas atribuições realizar estudos que visem o progresso tecnológico, capaz de melhorar a produção animal e vegetal, mantendo harmonia com o ecossistema possibilitando ofertar alimentos e outros bens em quantidade e custos acessível a todos, indistintamente.
Esses profissionais são requisitados por institutos e empresas de pesquisas, estações experimentais, organismos de fomento da produção agrícola, delegacias regionais de agricultura, propriedades rurais, unidades de defesa sanitária vegetal e animal, cooperativas agrícolas, indústrias de adubos, rações, bebidas, defensivos e outros produtos. As possibilidades na carreira do profissional podem ser desenvolvidas nas atividades que envolvem competências e habilidades de projetar, coordenar, analisar, fiscalizar, assessorar, supervisionar e especificar tecnicamente e economicamente os projetos do agronegócio e da agricultura familiar voltados ao uso racional e sustentável dos recursos necessários a produção. Também pode atuar na realização de vistorias, perícias, avaliações, arbitramentos, laudos e pareceres técnicos, com condutas, atitudes e responsabilidade técnica e social. Atuando na organização e gerenciamento empresarial e comunitário visando produzir, conservar e comercializar alimentos, fibras e outros produtos agropecuários. “O profissional tem chances de se empregar em empresas e propriedades, desenvolver o empreendedorismo em diversos ramos ou mesmo atuar como autônomo. O agronegócio no Brasil possibilita grandes oportunidades para esses profissionais, pois é um dos ramos que ajudam a sustentar o país, contribuindo com 30 % do PIB nacional e está em largo crescimento”, avalia o coordenador do curso de Engenharia Agronômica da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Julien Chiquieri. Há inúmeras possibilidades de empregos para o início de carreira, principalmente porque as áreas de atuação do engenheiro agrônomo são muito amplas. Abrange campos desde a engenharia de biossistema e construções rurais, até produção vegetal e animal, podendo passar por economia, administração, agroindústria e outras áreas. “Eventual dificuldade de emprego em uma área é compensada por oportunidades em outras, mantendo a empregabilidade. Esta é uma vantagem da carreira em relação a outras mais específicas, onde as opções ficam mais restritas”, afirma o coordenador da Esalq-USP. No início de carreira, o engenheiro agrônomo encontra oportunidades em áreas técnicas e comerciais de empresas, mas também pode seguir uma carreira mais acadêmica voltada para pesquisas, sendo indicado nesse caso também um curso de pós-graduação.
O bom desempenho do agronegócio tem mantido alta a procura por profissionais, avalia Toshio Nishijima, da UFSM. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq-USP, o agronegócio representa 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e cerca da metade do faturamento das exportações nacionais. O setor se mantém aquecido, com elevada procura por profissionais. As melhores oportunidades para o engenheiro agrônomo vem da exportação de commodities.
O comércio de exportação de commodities tem gerado oportunidades em órgãos do governo, em empresas exportadoras ou importadoras, indústrias de alimentos, sementes, adubos, equipamentos, tecnologias da informação e em grandes propriedades e empreendimentos rurais. “A agricultura familiar e a produção de alimentos orgânicos vem surgindo como outra oportunidade de crescimento para o mercado de trabalho”, acrescenta.
Eng° Agrônomo Elias Nascentes Borges
Prof. Dr. Física do Solo/Manejo de Solos
Universidade Federal de Uberlândia- UFU